domingo, 29 de novembro de 2015

QUASE HISTÓRIAS (CXI)

FOTO: GETTY IMAGES

ROMUALDO BASTOS

Onze horas. Um homem bem vestido (para os padrões locais, evidentemente) entra no bar, deseja (em tom solene) que “todos os senhores tenham um excelente dia”, dirige-se até o balcão, cumprimenta o dono da espelunca, pede um aperitivo e uma lata de cerveja, vai até a mesa mais retirada, senta-se, abre o jornal em determinada página, saca a caneta do bolso, dá um gole no aperitivo e outro na cerveja, escreve algo que ninguém ali imagina o que seja, olha para o alto como se pedisse ajuda divina, baixa a cabeça de novo, escreve mais alguma coisa, dá um gole no aperitivo e outro na cerveja, volta a olhar para o alto etc.

Esse ritual leva cerca de uma hora, período em que, por nenhuma vez, virou a página do jornal. Levanta-se, vai até o balcão, pede um novo aperitivo (que entorna de uma vez, ao contrário do que fizera com o primeiro, sorvido aos golinhos), paga a conta, despede-se do dono do bar, deseja (sempre em tom solene) que “todos os senhores tenham uma excelente tarde”.

Mal atravessou a rua, começaram as especulações: quem seria a figura, de onde viera, era morador novo no bairro, que fazia da vida, já tinha aparecido por ali antes, por que olhava tanto para o alto antes de escrever, por que não virava a página do jornal? As indagações eram muitas, do tamanho da curiosidade humana.

Infelizmente, Carneiro, o dono do boteco, também não tinha maiores informações sobre aquele homem bem vestido (para os padrões locais, evidentemente). Sabia apenas que era a segunda vez que aparecia ali, que hoje repetiu o ritual de ontem, que se mudara para a casa do falecido J. Pinto (na rua debaixo), que ele se chamava Romualdo Bastos e que, salvo engano, ele viria todos os dias, aposentado que era. Nada mais que isso.

O pessoal do bilhar deixou os tacos de lado, para se concentrar nas especulações. Para fulano, o homem era investigador e estava de campana, atrás de informações sobre o paradeiro de Chiquinho da Maconha, o principal traficante da área. Para beltrano, não era nada disso, não. Logo se via, pela grossura dos óculos, que não era polícia coisa nenhuma. Nunca tinha visto investigador de óculos com lentes tipo fundo de garrafa, coisa para intelectual, gente que lê muito. Sicrano observou que os óculos poderiam ser um disfarce, investigadores e detetives adoram disfarces, era bom não se fiar no homem. Alguém sugeriu que a turma lhe desse uma prensa, para que revelasse quem era. Carneiro achou a operação arriscada, melhor todo mundo ficar quieto, não dizer palavra enquanto ele estiver no bar.

 O mal-estar só se dissipou quando Toninho Moleza chegou e disse:

-- Seu Romualdo gostou muito do ambiente, Carneiro. Ele me disse que virá todos os dias.

-- E você conhece seu Romualdo, Toninho Moleza? – quiseram saber todos.

-- Claro! Minha mãe faz faxina na casa dele há uns dez anos ou mais, desde o tempo em que ele morava na Penha. É gente boa. Só tem um vício: palavras cruzadas. (2013)


QUASE HISTÓRIAS (CX)


O REI DO BALCÃO

Dizem que o dinheiro não aceita desaforo. Se isso vale para os ricos, que dirá para os pobres? Todo deslumbrado é um idiota. E a idiotia é doença incurável. Quando o sujeito pensa que não tem mais nada a perder, ela (a idiotia) volta com tudo. E joga ele (o deslumbrado) de novo no chão.

Anos atrás, bote anos nisso, conheci um sujeito que, nos finais de semana, frequentava o mesmo boteco que eu. Ele sempre aparecia com seu filho pequeno e único. Gostava de falar alto, de exibir sua arrogância analfabeta e ostentar uma riqueza que não tinha. Se o moleque lhe pedia um chocolate, ele comprava a caixa toda. Ou, pelo menos, todos os confeitos que nela estavam. Se o guri lhe pedia bala, seguia a mesma trilha. Que viessem todos os dropes. Na hora de pagar a conta, que sempre pedia em alto som, sacava do bolso maços de dinheiro. E virava-se para quem estivesse mais próximo e lhe perguntava: “Quer tomar mais uma”? Não esperava pela resposta. Mandava o dono do boteco por mais uma. “Essa é por minha conta”.

Gostava de alardear que era braço direito de um dos principais doleiros da capital.

Não demorou muito o sujeito sumiu. Soube-se que caíra em desgraça com o chefe. E que, por isso, não arrumaria mais emprego com doleiro algum. Mafiosos são unidos. Como não tinha outra “qualificação” profissional...


Tempos depois nos encontramos numa padaria ao lado de sua casa. Estava só. Cadê o menino? Ele fez de conta que não me viu. Eu também disfarcei, nunca tivemos intimidade. Pediu dois pãezinhos, passou batido pelas caixas de guloseimas e se foi como entrou – de cabeça baixa. (2013)

sábado, 28 de novembro de 2015

QUASE HISTÓRIAS (CXI)




TIO BIRO

A pequena criatura, menina de tudo, é efusiva; mais “simpática”, impossível. Não economiza no volume. Não se intimida com terceiros. Nem com quartos. Ela fala tudo na frente de todo mundo, na lata:

-- Todo dia, vejo o senhor no barzinho da rua debaixo, tomando cerveja. Mamãe acha que o senhor é vagabundo, papai não tem dúvidas. Tio Biro, o senhor é vagabundo?

Tio Biro mudou de boteco. Em nome da paz. Pra fugir da menina.

Mas a perua escolar dá muitas voltas. Cata um aluno aqui; outro, acolá. Malditas peruas escolares. A pequena criatura sempre atenta, demônio na forma de bonsai, logo descobriu o novo refúgio de tio Biro. E espalhou a novidade no prédio em que moravam.


Tio Biro continua gostando muito de crianças – das mudas, preferencialmente. (2014)

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

CHARGES: DIRETO DA "BESTA"



JORNAL DA BESTA FUBANA


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CLÁUDIO – AGORA S. PAULO


sinovaldo
                                                           SINOVALDO – JORNAL NH (RS)




nani
                                                                NANI – CHARGE ONLINE




clayton
CLAYTON – O POVO (CE)



paixao
PAIXÃO – GAZETA DO POVO (PR)



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MYRRIA – A CRÍTICA (AM)



clayton
CLAYTON – O POVO (CE)


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TENÓRIO – CHARGE ONLINE



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ZÉ DASSILVA – DIÁRIO CATARINENSE

BRUNO NEGROMONTE

Márcia Tauil - Entrevista Exclusiva
A cantora, compositora e instrumentista volta para uma exclusiva e informal conversa onde apresenta as novidades em relação a sua carreira.
A mineira Márcia Tauil já conta com quinze anos de estrada em um trabalho que sempre busca trazer características bastante peculiares. Seja cantando, compondo ou executando o seu instrumento, a artista vem de modo bastante coerente apresentando-se nos mais distintos palcos brasileiros, sendo premiada em diversos festivais Brasil afora como foi possível atestar a partir da matéria "Sob o aval de grandes nomes eis um promissor talento de nossa música" recentemente publicada aqui mesmo em nosso espaço. Após interpretar canções da lavra de Robert0 Menescal, Eduardo Gudin e J. C. Costa Netto em projetos especiais, Márcia atualmente vem na elaboração do seu terceiro projeto solo e, entre um compromisso e outro, a artista gentilmente concedeu um pouco do seu precioso tempo para nos presentear com esta entrevista exclusiva onde fala, dentre diversos assuntos, sobre suas reminiscências musicais, a responsabilidade de ser considerada pelo público e pela crítica como um promissor talento dentro do atual cenário da música brasileira e a sua aproximação a dois compositores recorrentes em seus projetos fonográficos: Eduardo Gudin e J. C. Costa Netto. Leitura imprescindível para aqueles que amam a música brasileira pautada na tríade perfeita: talento, bom gosto e repertório impecável.
Dentro das suas reminiscências há alguma que você destacaria como determinante para a sua predileção pela música? 
Márcia Tauil - Fui ninada pelo meu pai, músico, com chorinhos. E desde menina vi e ouvi a Música acontecer em casa, devido a ele, minha mãe, pianista e violinista e meu irmão contrabaixista, violonista e tecladista.
E a questão da composição? Como se deu o seu primeiro contato com este universo? 
MT - Sempre criei muito, mas não via esse lado tão aflorado como o canto. Buscava mais o canto. Comecei compondo de brincadeira e por volta de 2000, a pianista Mana Tessari passou a trabalhar comigo e começamos a compor para FESTIVAIS, a partir daí, não parei mais. 
O chorinho é um gênero que faz parte de sua formação musical devido principalmente ao seu pai não é isso? Como você foi aglutinando os outros gêneros a sua formação musical? 
MT - Minha mãe estudou clássicos, e mesmo tendo abandonado os estudos de música, nos passou seus conhecimentos, cantando junto com meu pai, dentro de casa. Meu irmão tocava baixo numa banda com repertório Jovem Guarda e tocava violão e teclado, acompanhando cantores diversos, de repertórios variados, desde a Bossa Nova até boleros, por exemplo. Os ensaios aconteciam no quarto dele, em minha casa. E eu me interessava por todas as tendências e novidades. 
Você vem sendo reconhecida não apenas pelo público, mas principalmente pela crítica especializada como um promissor talento dentro do combalido cenário da atual música popular brasileira. Como você encara essa responsabilidade? 
MT - Eu encaro essa realidade há muitos anos, me mantendo fiel ao estilo, qualidade e repertório, e essa minha luta está sendo reconhecida. 
Não é de hoje que o mercado musical brasileiro vem mostrando-se bastante divergente. Isso atesta-se a partir de nomes como o seu, que apesar do reconhecimento do público e da crítica não tem o devido espaço em detrimento a um tipo de música efêmera. Qual a sua opinião sobre essa pseudo lógica de mercado? 
MT - Essa divergência possibilita que nomes como o meu possam se manter no mercado da boa música. Ele é mais escondido, mais restrito, mas existe. Não foram todas as pessoas atingidas pela massificação. Ainda bem que a divergência se estabeleceu. Imagina um mundo comandado apenas pelos VERMES DE OUVIDO (comprovação científica de músicas criadas para grudarem no cérebro). Mesmo com toda essa máquina voltada ao comercial, tem público ligado em trabalhos com características atemporais. Claro que é mais difícil trabalhar para menos público, com menos mídia. Dificulta, mas valoriza a estrada. 
Em 2014 você está completando quinze anos de carreira fonográfica. Qual a avaliação que você faz desse período e dos álbuns lançados? 
MT - Dentro das condições que tive de divulgação, de colocação em lojas, entrada em Mídia, posso analisar que, sendo Cds focados em qualidade e verdade, eles cumprem seu papel de me representar muito bem, até hoje, pois, mesmo sendo lançados há mais de 10 anos, assim que chegam em mãos de quem gosta e conhece MPB e sua história, sou procurada para entrevistas, e vão me abrindo mais e mais espaços. 
Como se deu a sua aproximação da produção dos compositores Eduardo Gudin e J. C. Costa Netto, dois nomes que acabaram tornando-se recorrentes em sua discografia? 
MT - Sobre Costa Netto, o conheci realmente por acaso, em São Paulo, no Villaggio Café, no dia de meu aniversário, e deixei meu material em vídeo com ele, que assistiu e depois foi me ver ao vivo. Eu conhecia muito de suas canções. Fiquei feliz em conhecê-lo. Daí surgiu meu primeiro Cd, e logo depois, o segundo Cd, com a obra de Gudin em parceria com ele, quando ele levou Gudin a um show meu, para que Gudin me conhecesse. Sou muito grata a ele. 
Como compositora que você é não cogita a possibilidade de um projeto fonográfico essencialmente autoral? 
MT - Quero sim, chegar a um cd totalmente autoral. Porém, como intérprete, canto canções não compostas por mim que me tocam e emocionam. E amo fazer isso nos palcos e nos CDs. 
Seu mais recente trabalho lançado é um projeto ao lado das cantoras Cely Curado, Nathália Lima e Sandra Duailibe onde vocês prestam uma justa homenagem ao cantor, instrumentista e compositor Roberto Menescal. Como surgiu a ideia deste projeto? 
MT - Roberto Menescal é um cavalheiro e um grande incentivador de artistas. Trabalho com ele há muitos anos e recebo muito carinho, grande ajuda e maravilhosos ensinamentos. Sua obra é especial e sua colaboração para a Música Brasileira é inestimável. Pensei em homenageá-lo, falei com as cantoras, que na hora, se uniram a mim com os mesmo sentimentos de gratidão e de vontade de cantar o Mestre. Ao falarmos para ele, ele que nos presenteou participando do Cd, nos dando canções inéditas, fazendo os arranjos e tocando também. Merece sempre e muito mais! 
Você atualmente vem preparando o seu terceiro projeto solo que a princípio apresenta-se de modo bastante coerente com a sua trajetória musical a partir de nomes já conhecidos pelo seu público. Você poderia nos adiantar alguma novidade sobre este novo álbum? 
MT - As novidades são as composições próprias e a participação de Menescal, fazendo um dueto muito simpático comigo, onde fundimos uma composição dele e de Bôscoli, com outra de Maurício Einhorn e Durval Ferreira, num jogo de perguntas e respostas. Ficou muito agradável. Dessa vez, o cd sairá pela gravadora GRV e terá um projeto de lançamento bem cuidado e bonito. Pretendemos primeiro, lançar virtualmente.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

CHARGES: DIRETO DA "BESTA"


JORNAL DA BESTA FUBANA

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SPONHOLZ – JBF


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M. AURÉLIO – ZERO HORA (RS)




chico_caruso_-_26-11-2015
CHICO CARUSO – O GLOBO



AUTO_amarildo
AMARILDO – A GAZETA (ES)


AUTO_sinovaldo
SINOVALDO – JORNAL NH (RS)



moises_-_25-11-2015
                                                                    MOISÉS – BLOG DO NOBLAT






paixao
PAIXÃO – GAZETA DO POVO (PR)

NÚBIA NONATO


LEÃO
Afia as garras afiadas
no velho tronco.
Suspira alto assustando
um pobre pardal. 
Sacode a juba espantando
moscas.
Do outro lado animais gritam,
jogam pedras, se penduram nas
grades ameaçadores.
O velho leão cansado, já desistiu
dos sonhos.
Há muito enterrou as lembranças
da pátria.
Furtivas lágrimas se perdem no
espesso pelo, enquanto o bicho
homem caminha em liberdade...

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

HORA DA VITROLA: AI, AI, AI

Mário Lago: o REI


ATIRE A PRIMEIRA PEDRA
De Ataulfo Alves e Mário Lago
Na interpretação de Noite Ilustrada

Covarde sei que me podem chamar
Porque não calo no peito essa dor
Atire a primeira pedra, ai, ai, ai
Aquele que não sofreu por amor

Eu sei que vão censurar o meu proceder
Eu sei, mulher que você mesma vai dizer
Que eu voltei pra me humilhar
É, mas não faz mal
Você pode até sorrir
Perdão foi feito pra gente pedir

Covarde sei que me podem chamar
Porque não calo no peito essa dor
Atire a primeira pedra, ai, ai, ai
Aquele que não sofreu por amor






VIDRÁGUAS: CARMEN SÍLVIA PRESOTTO

Arte: Carrie Vielle


PRECISO DE UM POEMA TEU...

que ele venha
com o porteiro
por caixa, e-mail
face, bilhete,
rosas ou correio
que venha
por ondas
marés, quinteto
entrelinhas
quadras ou soneto
mas que chegue
imerso, livre
em versos
precioso...
... preciso
um poema
por inteiro...
por empréstimo
consórcio ou favor
seja o meio que for
que nele estejas
todo... todo por amor!

Carmen Silvia Presotto – Vidráguas


Carmen Silvia Presotto 
é Coordenadora Editorial na 
empresa Vidráguas.
É também autora dos seguintes livros:
Postigos: Poesia. Editora Vidráguas, 2010.
Encaixes: Poesia. Editora Vidráguas, 2006.             
Dobras do Tempo: Poesia. Editora Alcance, 2003.



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JORNAL DA BESTA FUBANA

00rs1124crs
SPONHOLZ – JBF



AUTO_claudio
CLÁUDIO – AGORA S. PAULO


AUTO_brum
BRUM – TRIBUNA DO NORTE (RN)


AUTO_santo
SANTO – CHARGE ONLINE


AUTO_amarildo
AMARILDO – A GAZETA (ES)


AUTO_jarbas
JARBAS – DIÁRIO DE PERNAMBUCO


mariano
                                                                 MARIANO – CHARGE ONLINE



QUASE HISTÓRIAS (CVIII)


CHUTANDO OS TOMATES

Comes e bebes andam pela hora da morte. O pessoal tem fugido do tomate como genro de sogra. As madames, sempre fazendo dieta, evitam o fruto – e ainda aproveitam a carestia pra se exibir e fazer seu discurso politicamente correto. “Pagar esse preço? Nem pensar, meu bem. Dinheiro não me falta, claro. Mas sou solidária com os pobres”, discursa no elevador a perua do 13º andar. Os pobres, sem ter com quem ser solidários e sem dinheiro, miram sua ira no japonês da quitanda: “É um ladrão, sempre foi”.

Enquanto isso, os economistas vivem momentos de glória: gastam mais tempo dando explicações que ninguém entende, exceto eles próprios, que fazendo contas. É uma gente valorosa. Tem sempre explicação pra tudo. O governo faz como Maria Chiquinha: embrenha-se no mato, em busca de alguma medida prazerosa que evite que a culpa do preço do tomate recaia sobre a presidente e seus dois neurônios. Cabe ao ministro da Fazenda fazer o papel de mensageiro de um tempo ensolarado que, se depender de sua incompetência, não virá.

www.meiomensagem.com.br

Os mais entendidos colocam a culpa dos preços altos na tal de sazonalidade, que o frentista do posto está convencido de que só pode ser alguma sacanagem do prefeito. Os mais entendidos ainda vão além. “Não podemos nos esquecer de que a inflação de demanda e a sazonalidade não explicam tudo. Sem uma reforma tributária pra valer e mais investimentos em logística e em infraestrutura, não há quem dê jeito no preço do tomate”, garantem os especialistas. Dentre os que não entendem nada desse mundo fascinante da macroeconomia, há quem defenda a solução por decreto: “É só a presidente mandar baixar o preço. É fácil!”

O dono da banca de jornal – tido como um dos homens mais bem informados do bairro, pelo acesso que tem às informações, vive cercado de periódicos – dá de ombros às explicações que, segundo ele, não explicam nada:

-- Querido, a coisa é simples. O governo tem que aumentar o preço das mercadorias pra pagar os campos de futebol que está fazendo para a Copa do Mundo. Em vez de chutar a bola, ele chuta os tomates, os nossos. (2013)


XICO BIZERRA

notebook-flor

A FLOR E O NOTEBOOK


Ao lado do notebook uma florzinha murcha, mais morta que viva. Ainda assim, está lá, mais viva que morta. Muito mais viva que a tela fria do computador que, sem sentimento algum, só mostra o que lhe pedimos, sem cheiro ou cor. A florzinha, fora do galho e só esperando a hora de ser jogada fora, ainda exala seu perfume e se mostra viva, embora já se encolhendo, mas ainda ali. O computador, logo será desligado e ficará como a flor até que alguém o ligue, novamente. A flor, em breve se desligará de vez, da tomada da vida, sem bateria para prosseguir seu ofício de beleza e cheiro pelo mundo. Sou mais a flor, sem internet e sem facebook. Sou mais a flor, mais parecida com gente, com cheiro e cor. (Xico Bizerra)


Xico Bizerra é compositor, poeta, 
cronista e produtor musical.
Tem mais de 270 composições gravadas

http://www.forroboxote.com.br/

COISAS DA VIDA

O RONCO


(Por Violante Pimentel) O ronco é responsável por muitas discórdias entre casais. Nada mais incômodo do que uma pessoa roncando de madrugada, perturbando e apavorando quem dorme. Na mesma cama, então, o resultado pode ser trágico.

Quando ouço alguém roncar, penso que aquela pessoa está morrendo e fico apavorada. Não consigo dormir, e fico aguardando algum problema de saúde sério para quem está roncando. Tenho trauma de infância...

Era véspera de Ano Novo e todas as pessoas da nossa casa tinham ido aguardar a passagem do ano na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, assistindo à Missa. Como eu era a caçula e só tinha cinco anos, minha mãe me deixou dormindo na casa dos meus avós, que era vizinha à nossa casa.

Dormia profundamente, quando fui acordada pelo ronco de um barrão que meu avô criava. O barrão era enorme, e eu sentia medo dele. O barulho era tão grande que eu me assombrei. Acreditava que, a qualquer momento, o animal entraria no quarto para me morder dentro da rede. De repente, ele fez uma pausa e parou de roncar por alguns segundos. Acreditei que tivesse abandonado a casa e voltado para o quintal. Ledo engano. O barrão voltou a roncar ainda mais forte.

Entrei em pânico e fiz um verdadeiro escândalo. Na minha cabeça, o barrão estava prestes a me atacar. Do quarto onde estava, gritei pela minha avó, Júlia, pedindo socorro:

- VÓ, OU VÓ, AQUI TEM PORCO!!! O BARRÃO TÁ DENTRO DE CASA!!!

Violante Pimentel é procuradora 
aposentada do Rio Grande do Norte


A avó correu pra me acudir, mas, ao sair do quarto, percebeu que o ronco não era do barrão. O ronco era do meu avô, que, fugindo do calor insuportável do quarto, havia armado sua rede na sala, onde dormia profundamente.

Nessa época, ainda não havia energia elétrica em Nova-Cruz, e, por isso, ventilador não existia. Ar condicionado, então, era “estória de trancoso”.

O barulho foi grande, pois, além do ronco do suposto barrão, os meus gritos de pavor acordaram outras pessoas que dormiam na casa. Somente o meu avô, Manoel Ursulino, continuou dormindo “em berço esplêndido”.

Só acordou pela manhã, alheio ao transtorno que o seu ronco havia causado à neta.  



terça-feira, 24 de novembro de 2015

HORA DA VITROLA: TOM/VINÍCIUS


EU SEI QUE VOU TE AMAR




De Antônio Carlos Jobim/Vinícius de Moraes
Na interpretação de Caetano Veloso

Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar

E cada verso meu será pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida

Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar,
Mas cada volta tua há de apagar
O que essa ausência tua me causou

Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver a espera
De viver ao lado teu
Por toda a minha vida.




O CANTO DE VÓLIA


ANDANÇA

Caminharei, embora quisesse ficar,
Mas a vida me pede movimento
E não ficarei parada neste campo
Onde já não há vida pra mim.

Caminharei, embora quisesse ficar,
E não olharei para trás quando partir,
Porque tudo que deixar era pra ser
Deixado mesmo.

Seguirei nessa andança
E os pores de sol suceder-se-ão.
E virão outros amanheceres
E novas poesias que a vida me promete.

Porque parar e chorar é só uma fase
E eu já chorei demais,
Por agora, já é hora de caminhar.
Sozinha, sem tua mão na minha.


23/02/2010


Vólia Loureiro Do Amaral
Vólia Loureiro do Amaral Lima é paraibana,
 engenheira civil, poetisa, romancista e artista plástica.. 
Autora das obras Aos Que Ainda Sonham (Poesia) 
e Onde As Paralelas Se Encontram (Romance).