quinta-feira, 20 de outubro de 2016

POLÍTICA/OPINIÃO: RICARDO NOBLAT


Fardo e duvidas (Foto: Arquivo Google)
ARQUIVO GOOGLE


ENTRE O SILÊNCIO DE QUEM BUSCA
PROTEÇÃO E A CONFISSÃO PLENA
DE QUEM PRETENDE REDUZIR DANOS

Ou Cunha entrega o que procuradores da República chamam
de “planta da fábrica” ou mofará na cadeia. Por “planta da fábrica”,
entenda-se: o relato mais completo possível
sobre a corrupção no meio político

POR RICARDO NOBLAT

20/10/2016 - 08h04


Repentinamente, uma pesada cortina de silêncio desceu, ontem à tarde, sobre a Esplanada dos Ministérios e a Praça dos Três Poderes, em Brasília, tão logo começou a circular a notícia da prisão do ex-deputado Eduardo Cunha.

A Câmara dos Deputados suspendeu suas atividades por algumas horas. Restaurantes que até aquele momento abrigavam políticos e lobistas ficaram vazios. E os ministros com gabinetes no Palácio do Planalto deixaram de atender telefonemas de jornalistas.

Aquele pedaço da cidade parecia ter sido abduzido do resto da Brasília que continuava viva, pulsante, entregue à rotina de sempre, e a poucas horas da queda de um temporal que a aliviaria da secura desta época, mas inundaria vias e atrapalharia o trânsito.

Sempre que a Lava Jato captura algum notável, os líderes de partidos acionam suas assessorias para soltar notas oficiais a respeito. Há mais gente querendo falar do que jornalistas dispostos ou interessados em ouvi-la.

As declarações são para lá de previsíveis, mas as conversas mediante o compromisso de não revelar a identidade dos interlocutores costumam render informações por vezes preciosas, permitindo a quem queira especular sobre o futuro e suas consequências.

Nada disso aconteceu – nem mesmo depois que o jato da Polícia Federal decolou para Curitiba no meio da tarde levando Cunha e seus acompanhantes. Era pedra cantada que Cunha seria preso mais dia, menos dia. Ele estava de mala pronta.

O que ninguém se arrisca por ora a prever – e o que muitos tanto receiam – é como ele se comportará depois que a ficha cair. “Não tenho o que delatar porque não sou um criminoso”, disse e repetiu Cunha desde que teve o mandato cassado há um mês.

Mas o livro que começara a escrever seria uma espécie de delação prévia. As circunstâncias mudaram. Cunha avaliará se o melhor para ele será o silêncio de quem busca ainda algum tipo de proteção ou a confissão desbragada de quem pretende apenas reduzir danos.

RICARDO NOBLAT É JORNALISTA
SERVIÇO COMPLETO

Não basta que Eduardo Cunha decida falar para que sua delação seja aceita. A Lava Jato está disposta a cobrar caro para ouvi-lo e – quem sabe? – abrandar sua condenação.

Ou ele entrega o que procuradores da República chamam de “planta da fábrica” ou mofará na cadeia. Por “planta da fábrica”, entenda-se: o relato mais completo possível sobre a corrupção no meio político. (RN)



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