terça-feira, 20 de dezembro de 2016

QUASE HISTÓRIAS: HORA EXTRA




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GUY ROSE




-- Assim, não é possível. Está ficando difícil, mãe. Difícil, não: impossível. A senhora tem que se ajudar um pouco, saco! Tem que se alimentar direito, beber água, tomar os remédios, fazer os exercícios que o médico mandou. Puta que pariu!

-- Calma, filha, calma. Se eu levanto do sofá, vocês brigam comigo, me xingam de tudo que é nome...

-- Claro, queria o quê? É levantar pra cair. Já lhe disse: quer ir ao banheiro? Chame alguém.

-- Se eu chamo, vocês reclamam, ficam bufando.

-- Não dá pra ficar o dia todo à sua disposição. A gente tem mais o que fazer, mãe.

-- Por isso, bebo pouca água, para não incomodar toda hora.

-- Tem é que usar fralda dia e noite.

-- Fico assada.

-- Assada, não: mimada.

-- Filha, minha doença não tem jeito. Tenha paciência.

-- Eu sei. A senhora não vai melhorar mesmo. Mas quer piorar ainda mais? Já não basta o trabalho que está dando? Francamente. Há dez anos, desde que a senhora veio pra cá, ninguém tem vida nessa casa. (OS – dezembro/2016)  






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CHARLES SPENCELAYH


FIM DA LINHA

E nada mais foi dito, após a sentença ser decretada pela família.

Os filhos se entreolharam comovidos, sob o olhar aflito, mas firme, da mãe.

O velho também não disse palavra. Olhava o nada, sem lágrimas. Sabia que aquilo – sua interdição – não era maldade.

Era inevitável. (OS)


3 comentários:

  1. Triste demais! Terminar a vida assim...ninguém que foi razoável nessa vida, merece! O pior, é que existe verdades como essas acontecendo todo dia! Triste envelhecer!

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