quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

CRÔNICA: CARLOS HEITOR CONY

Resultado de imagem para IMAGEM ÓLEO DE FÍGADO DE BACALHAU
ILUSTRAÇÃO: ARQUIVO GOOGLE

O BACALHAU E OS MODELOS

POR CARLOS HEITOR CONY
UOL – 13/04/2004

Nos bons tempos da imprensa amadora, o recurso mais usual para cobrir a falta de noticiário era apelar para um anúncio que sequer era pago. Um laboratório internacional ofertara a todas as redações o clichê de um homem levando nas costas um enorme bacalhau.

Era o anúncio do Óleo de Fígado de Bacalhau, receitado para um povo anêmico, predisposto à tuberculose, à malária e doenças várias.

Nenhum secretário de redação se apertava. Havia um claro na página e o chefe da oficina ali colocava o anúncio do homem fatigado com o seu bacalhau às costas.

A imprensa profissionalizou-se, adotou tecnologias de ponta, a medicina também deu grandes saltos, aumentando a expectativa de vida da humanidade.

Mesmo assim, volta e meia falta assunto aos jornais e nenhum editor (que substitui o antigo secretário de redação) se lembra do homem e de seu bacalhau. Abre a foto de qualquer modelo, de biquíni ou calcinha, de alto a baixo na página, e mais espaço houvera mais modelo haveria.

Não deixa de ser um avanço. Pessoalmente, prefiro ver uma triatleta ou uma top do mundo publicitário, ao homem fatigado, com o bacalhau pescado nos violentos mares do Norte e do Báltico.

Deus é testemunha de que nada tenho contra o bacalhau, pelo contrário, aprecio-o em suas diversas modalidades culinárias, menos em forma de óleo extraído de seu benéfico fígado.

Evidente que uma modelo me atrai mais e melhor. De tantas e tão excitantes, fica difícil distingui-las, todas se parecem, as poses e os sorriso são os mesmos, mesmas as legendas que tentam explicá-las.

Enfeitam a página e enfeitam a vida. Um dia terão o óleo de seus fígados receitados para combater anemias e debilidades. Estudo com simpatia esta hipótese para curar meus males.

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