sexta-feira, 10 de março de 2017

SÓ OS IGNORANTES SÃO FELIZES


-- Ananias, meu amigo: ouça o que esse Velho Marinheiro tem a lhe dizer.

-- Pode falar. Gosto muito de ouvi-lo.

-- Não precisa puxar o saco. Todos nós somos ignorantes, porque ignoramos muitas coisas, talvez a maioria delas. O que, às vezes, vira motivo de angústia. Mas só os ignorantes são felizes. Agora, tem de ser um ignorante total, porque, aí, o sujeito não tem noção de sua burrice. Então, ele dá palpite sobre tudo, tem opiniões definitivas sobre qualquer assunto. Não tem a menor noção do quanto é ridículo.

-- O que houve? Estou curioso.

-- Acaba de sair daqui a besta do Chico Pança. Pra variar, estava tocado. Por mais de hora, torrou a paciência da gente, não sei se de todos, porque muitos aqui são iguais a ele. Pior ninguém consegue ser...

  -- Conheço o tipo. Mas, afinal, o que ele disse, Velho Marinheiro?

-- Ananias: a anta desandou a falar sobre política. Disse que o Brasil precisa de um presidente macho, que feche o Congresso e o Judiciário, que soque a mesa e diga: “Daqui pra frente, quem manda somos eu e a junta de generais”.

-- É um coitado.

-- Disse mais: que ele nunca votou em ninguém, que a culpa é de quem vota. Que ele também nunca leu livro, nem perdeu tempo com jornais e revistas. Que tudo que ele sabe – a anta não sabe nada – é fruto da vivência. E foi por aí afora. Sempre aos berros. Ameaçou sentar-se à minha mesa.

-- E aí?

-- Aí, eu fiz o que tinha que ser feito: “Chico: não ouse, vá vender sua estupidez incurável em outra freguesia.” Ele saiu trançando as pernas, mas vociferando. Ananias, o Carneiro é bom sujeito, mas é muito tolerante. Estou pensando em mudar de bar. Ou em só beber em casa. Isso aqui virou antro de insuportáveis.  Vamos tomar uma, porque ninguém merece a prosa tola do Chico Pança.  Carneiro, nossos copos estão vazios. (OS - atualizado em março de 2017)

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