quarta-feira, 24 de maio de 2017

IDEIAS: LUIZ FELIPE PONDÉ



Ilustração para Pondé de 24.abr.2017.
EDITORIA DE ARTE/FOLHAPRESSS



CARREGAR BABÁ DE BRANCO A RESTAURANTE
É SINAL DE QUE VOCÊ É UM RICO BOBO

A babá, quase sempre vestida de branco,
tenta fingir que não odeia aquilo tudo

Por Luiz Felipe Pondé
Folha Online – 24/04/2017

Sempre se soube que sucesso desumaniza. Só gente iniciante não sabe disso. Sucesso é muito bom. Não me entenda mal. Desumaniza porque pode fazer você achar que você é o máximo em tudo, quando o foi apenas em algo em particular, e, às vezes, esse algo é bem banal se tomarmos a totalidade das atividades e experiências humanas.

Mas o sucesso não só desumaniza, ele pode deixar você ridículo se você não perceber que a melhor forma de conviver com o sucesso é fingir que ele não existe. Pra você e para os outros. Eu sei que é difícil, então melhor consultar um profissional do ramo. Existem alguns bons por aí. Ouvi dizer que existem até alguns workshops que ensinam você a não ser um jovem de sucesso ridículo por causa do próprio sucesso. Lúcifer foi o primeiro jovem de sucesso bobo da história. E acabou ficando com o porão.

Quando o sucesso atinge você muito cedo na vida, a chance de você virar uma besta arrogante é enorme.

A juventude já é "um sucesso" em si, apesar de temporário e condenado à extinção com os anos. Quando associada a dinheiro ganho (ou herdado e ganho), essa tendência é reforçada. Quando a esse processo é adicionado o acesso a muita informação, mesmo que picada, superficial, mas abundante, ao simples toque de um rápido clique "mobile", você pode ver diante dos olhos o fenômeno tão discutido hoje em recursos humanos: jovens que estão sempre diminuindo todo ser humano que chegou ali antes dele. O pior é que tem gente de 60 anos que acha que se humilhando diante deles, dizendo que "o mundo é dos jovens", receberá um pouco de misericórdia. Bobinhos.

Muito disso é culpa dos pais, como bem mostra a psicóloga americana Jean Twenge em sua obra. "Generation Me" e "Narcissism Epidemic", dois de seus títulos, mostram bem como crianças criadas por pais que sempre as acharam o máximo, e, com o tempo, passaram a invejar a juventude delas (principalmente as mães), facilmente se transformam em jovens arrogantes e crentes de que abafam porque foram à Mongólia nas férias. Essa moçada cresceu achando mesmo que as opiniões que acumulou ao longo dos poucos anos de leitura rápida é, de fato, relevante. Pouca experiência de vida associada a muito dinheiro e a muita "cultura mobile", pode dar em várias faces ridículas do sucesso.

E quando essa turma tem filhos (se os tem...)? Surgirá a babá de branco em meio aos restaurantes de gente rica. Carregar uma babá de branco para um restaurante é sinal de que você tocou o fundo do poço da babaquice de rico. Vejamos a cena.

E, assim, chegaremos a uma outra face ridícula do sucesso. Essa você vê em restaurantes, clubes e aeroportos. Trata-se desses casais com um filho só que carrega uma babá a tiracolo.

O pai, com aquela cara de quem realmente acredita que tem a mulher na mão porque dá Chanel pra ela aos 35 anos de idade. Um daqueles descritos no parágrafo acima. Logo descobrirá o efeito devastador e purificador do tédio feminino – aquele mesmo que dizem por aí que é culpa do patriarcalismo.

Risadas?

Aliás, o patriarcalismo também é culpado pelo capitalismo, pela poluição ambiental, pela Inquisição e pelo fato da gravidade atrair corpos humanos. A mãe, com aquela dureza advinda de muitas bolsas Chanel e muito tédio, controla sua babá com um simples olhar a distância.

A babá, quase sempre vestida de branco, com aquele rosto cheio de mal-estar e vergonha, tenta fingir que não odeia aquilo tudo. Corre atrás do pequeno (miúdo, como diriam nossos irmãos portugueses) de um lado para o outro, segurando seu iPad.

O pequeno, aluno da Saint Paul ou de uma Waldorf da moda, logo dará bolsas Chanel ou se for uma pequena, as ganhará.

Mas, mesmo com rosto de mal-estar e vergonha por estar entre "gente rica", nossa babá suporta estoicamente a humilhação da roupa branca que não é de médica. Mas, quando se precisa de dinheiro, se precisa de dinheiro, coisa que em nosso mundo de plástico se esqueceu.

A pergunta é: como alguém não ensina para essa gente brega que não se leva babá pra restaurantes?

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