sábado, 9 de dezembro de 2017

POLÍTICA/OPINIÃO: JOSIAS DE SOUZA

Resultado de imagem para fotos geraldo alckmin
Alckmin: são enormes os seus desafios

SOB FALSA PACIFICAÇÃO,
PSDB VIVE SUA PIOR CRISE

No momento, é muito difícil distinguir o partido fundado
por Franco Montoro, Mario Covas e Fernando Henrique
Cardoso de uma legenda gelatinosa do chamado centrão

Por Josias de Souza
https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/
09/12/2017 04:51

Dizer que o PSDB perdeu a aura que o tornava diferente é pouco para traduzir sua crise, a pior que o partido já enfrentou desde o seu surgimento, há três décadas. Levado no embrulho da onda de descrédito que engolfou a política, o tucanato tornou-se um aglomerado caótico. Vão abaixo meia dúzia de evidências:

1) O PSDB declara-se pacificado sob a presidência de Geraldo Alckmin, inaugurada na convenção nacional deste sábado. Mas ainda convive nos subterrâneos com uma guerra fratricida entre as facções de Tasso Jereissati e de Marconi Pirillo (pode me chamar de centro-avante de Aécio Neves).

2) Alardeia que desembarcou do governo de Michel Temer, mas tolera a permanência de dois filiados na Esplanada: Aloysio Nunes (Itamaraty) e Luislinda Valois (Direitos Humanos).

3) O PSDB é a favor das prévias, previstas no estatuto do partido. Mas finge que Alckmin é presidenciável único, escanteando o rival Arthur Virgílio Neto, prefeito tucano de Manaus.

4) Defende a reforma da Previdência, mas não consegue entregar nem metade dos votos de sua bancada na Câmara.

5) Acusa Lula de buscar a re-reeleição para “voltar à cena do crime”, mas guarda um imponente silêncio sobre o pedido de inquérito criminal que corre contra Alckmin no Superior Tribunal de Justiça.

6) Enrola-se na bandeira da ética, mas acoberta Aécio Neves, transformando a corrosão do achacador de Joesley Batista num processo de enferrujamento partidário.

Num intervalo de três anos, o PSDB desceu da antessala do poder para o purgatório. Em 2014, Aécio tivera uma derrota com fragrância de vitória, pois amealhara notáveis 51 milhões de votos. Parecia fadado a eleger-se presidente em 2018. Entretanto, tornou-se um colecionador de processos criminais — já soma nove.

A corrosão de Aécio, o prontuário de José Serra, a inconsistência de João Doria e a radioatividade de Michel Temer empurraram o PSDB para o colo de Alckmin. E o eleitorado, cujos humores são prospectados pelos institutos de pesquisa, mantém Alckmin na frigideira onde ardem os sub-Bolsonaros, candidatos com índices de intenção de voto abaixo dos dois dígitos.

No momento, é muito difícil distinguir o partido fundado por Franco Montoro, Mario Covas e Fernando Henrique Cardoso de uma legenda gelatinosa do chamado centrão. E a dificuldade para identificar o DNA daquela legenda nascida em 1988 de uma dissidência do PMDB tende a aumentar.

A pretexto de firmar-se como uma alternativa presidencial de “centro”, Alckmin planeja associar-se ao rebotalho da política. Para aumentar o seu tempo de propaganda na televisão, trabalha com a perspectiva de empurrar para dentro de sua coligação legendas como PP, PTB, PR, PSD e até o PMDB.

Alckmin negociava à sombra. Mas o ministro Henrique Meirelles (Fazenda), que também sonha com a Presidência da República, entrou no jogo. Ele disputa com o grão-tucano o apoio dos mesmos aliados tóxicos. Impossível manter fora do alcance dos repórteres um balé de elefantes como esse.

PAÍS TEM 290 MIL PRESOS SEM SENTENÇA
E SUPREMO COGITA LIBERAR LARÁPIOS VIPs



O Ministério da Justiça divulgou dados atualizados sobre a população carcerária. Um detalhe chama especial atenção: há no Brasil cerca de 290 mil presos sem julgamento. Isso corresponde a 40% do total de encarcerados: 726 mil pessoas. É contra esse pano de fundo que o Supremo Tribunal Federal analisa a hipótese de abrir as portas das celas para os endinheirados e poderosos condenados duas vezes.

Repetindo: num país em que 290 mil cidadãos pobres mofam atrás das grades sem julgamento, a Suprema Corte cogita rever a regra que prevê a prisão de larápios VIPs condenados um par de vezes, na primeira e na segunda instância.

Para a casta superior, o direito de recorrer em liberdade. Se possível, até a prescrição dos crimes. Às favas com a dupla condenação! São inocentes até prova em contrário. Quanto aos miseráveis, são culpados até prova em contrário. Se possível, vão em cana como prova em contrário. Assim, não é que o crime não compensa. É que no Brasil, quando compensa, ele tem outro nome. Chama-se impunidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário