sexta-feira, 16 de março de 2018

POLÍTICA/OPINIÃO: JOSIAS DE SOUZA

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Rio  manifestação em homenagem à Marielle
Foto: Mídia Ninja

 

FATOS ARRASTAM TEMER

PARA AGENDA DE DELEGADO

 

Rodeado por denúncias criminais e inquéritos por corrupção,

Temer convive com o risco de ter um futuro à moda de Sérgio Cabral

 

Por Josias de Souza

UOL – 15/03/2018

 

O fuzilamento da vereadora Marielle Franco e do motorista dela, Anderson Gomes, aconteceu no centro do Rio de Janeiro. Mas os efeitos dos disparos foram sentidos no Palácio do Planalto. Michel Temer descobriu da pior maneira possível o quão arriscado é fazer populismo com segurança pública. Ao decretar intervenção federal na segurança do Rio, Temer disse que seu governo prevaleceria sobre a bandidagem. Os criminosos ainda não lhe deram crédito. Pior: revelam-se dispostos a balançar o coreto de sua autoridade.

A essa altura, nem as almas mais ingênuas acreditam na lorota de que Temer devolverá a paz ao Rio até dezembro, quando termina o seu mandato. Primeiro porque o tempo é curto. Segundo porque falta uma certa  autoridade a Temer. Há duas décadas, um candidato a prefeito chamado Sergio Cabral dizia que a Rocinha era uma fábrica de marginais. Anos depois, eleito governador pelo PMDB, partido de Temer, Cabral chegou a anunciar que mandaria murar uma favela. Hoje, o aliado de Temer está preso dentro dos muros da cadeia paranaense que guarda os larápios da Lava Jato.

Rodeado por denúncias criminais e inquéritos por corrupção, Temer convive com o risco de ter um futuro à moda de Sérgio Cabral. Mas achou que poderia oxigenar o resto do seu mandato desafiando o crime organizado do Rio. Retirou o governador Luiz Fernando Pezão da linha de tiro. E atraiu para o gabinete presidencial, em Brasília, todas as mazelas da insegurança do Rio. Temer sonhou com a revitalização de sua autoridade de presidente. Mal sabia ele que a realidade o arrastaria para uma agenda de delegado de polícia.



MARIELLE PODE SER O PAVIO
QUE REACENDERÁ AS RUAS

É cedo para dizer se 2018 repetirá 2013. Mas o fuzilamento da vereadora Marielle Franco e do motorista dela, Anderson Gomes, retirou um pedaço da opinião pública de casa. Beneficiário do derretimento do governo de Dima Rousseff, Michel Temer sentiu o hálito quente do asfalto no início da noite desta quinta-feira. Nas palavras de um auxiliar do presidente, “é hora de encostar o ouvido no asfalto para escutar o que ele tem a dizer.”

Temer e seus operadores políticos assustaram-se com a quantidade de pessoas que foram às ruas por Marielle. Supreenderam-se também com o tamanho da repercussão internacional do episódio. O que pode acontecer?, perguntou o repórter ao colaborador do presidente. E ele: “Difícil prever o desfecho de algo que está em andamento. A única coisa que nos interessa no momento é a investigação. Nossa obrigação é apresentar rapidamente os culpados e providenciar a punição.”

Quando as ruas roncaram sob Dilma, a então presidente anunciou com espalhafato uma proposta de “cinco pactos”. Esfumaçaram-se no ar. Ela também esgrimiu um projeto de constituinte exclusiva. Não conseguiu explicar para quê. Empinou a ideia de uma reforma política moldada por um plebiscito. Tanta empulhação aumentou o caldo em que foi fervido o mandato de Dilma.

Embora o Planalto não se arrisque a prever até onde vai o barulho provocado pela execução de Marielle, há um detalhe do qual ninguém discorda. Dê no que der, Temer não conseguirá ficar alheio às consequências. O presidente saltou dentro do caldeirão há um mês, quando decretou a intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro.

Na manhã desta quinta-feira, quando as ruas ainda não soluçavam, Temer afirmou: ''Não destruirão o nosso futuro; nós destruiremos o banditismo antes”. Até aqui, a principal arma do governo foi a marquetagem. Ao reiterar a promessa de que a intervenção federal restabelecerá a paz no Rio, Temer vende uma ficção que cutuca a paciência do meio-fio. (JS)

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