terça-feira, 30 de setembro de 2014

ALGODÃO DOCE



 Tios bons eram aqueles que nos davam uns tostões para comprar guloseima. O beija mão, coisa chata que só, nada mais chato que isso, saía de graça.  Aos 14 anos, virei a mesa. Jurei pra mim mesmo que não beijaria mais a mão de tio algum. Nunca mais comi algodão doce.


BONECA DE PANO



Desde sempre viveu de favores.
No começo, afetava constrangimento.
Coisa chata viver de favores, como não?
Depois tomou gosto.
A conveniência atropelou e enterrou o constrangimento.
A generosidade alheia virou obrigação.
Hoje, dita regras.

Quer porque quer o seu, que de seu nada tem.
Logo, logo pede uma boneca de pano de presente.
A filha da vizinha ganhou uma. 
Ela também merece. Ou não? 

NÚBIA NONATO

ESPELHO

Núbia Nonato
NÚBIA NONATO


Refiz meus passos enquanto meu menino crescia.
Procurei dar a ele o melhor de mim.

Ensinei-o a atravessar a rua, a não atirar pedras
nos passarinhos, a não xingar os mais velhos.

Tentei mostrar a ele que respeito a gente conquista
com atos e não com "pinturas".

Procurei ser para ele um espelho cuja imagem bem
nítida pudesse refletir a minha alma.

Amei-o incondicionalmente, como condiz a qualquer
genitor.

Hoje, filho, além das centenas de fotos, imagens que
tenho de ti, guardo-o em essência na certeza de que você
está logo ali.



CLÓVIS CAMPÊLO



POEMA DA PEDRA CÓSMICA

Doce como um cordeiro,
livre como um falcão.
Tecendo a sua vida
como a aranha
tece a sua teia.

Tranquilamente só
que a vida é solidão,
muito mais do que a morte.

Simplesmente zen
que o equilíbrio
é movimento
alimentado pelo tempo
que a tudo transforma.

Firme como uma rocha
a enfrentar tempestades;
inteira, mas dividida
em duas metades.

Pedra cósmica,
sólido equilíbrio
a cavalgar o tempo,
atravessando a vida.

Pedra cósmica,
miragem na linha do horizonte,
a dividir o que é
do que será.

Recife, 1992


segunda-feira, 29 de setembro de 2014

RAPIDÍSSIMAS (XXIII)

www.aliveweb.com.br

CADA MACACO...
Cuide de sua vida, meu bem. Da minha, descuido eu.

LIBERDADE
É tão bom ser desimportante.

CURRÍCULOS
No mais das vezes, são mais falsos que amor de sogra.

ENGASGÃO
Quem diria? Aquela porrada nas costas lhe garantiu a sobrevida.

TATUAGEM
E quando os anos tiverem passado?


sábado, 27 de setembro de 2014

TAPA NAS COSTAS





Vida difícil. Não conseguia mais dar o passo. Manter-se sentada também era difícil. Passar o dia na cama, quem pode com uma coisa dessas? O corpo dói demais. Mas era dia de visitas. Tinha porque tinha que parecer aprumada – e, de certa forma, estava! Com vestido florido, banho tomado, calcinha nova, fez seu papel: disse “boa tarde” (já era noite) a todos visitantes, fingiu entender o que lhe diziam etc.

Tudo ia mais ou menos bem até se engasgar com um naco de bolo. 
Foi um fuzuê. Quase se foi.

Uma pancada nas costas lhe salvou a sobrevida.

-- Poxa, mamãe, a senhora não se emenda, não? Sempre dando “fora” na frente dos outros. Que vergonha! Vou levá-la ao quarto, melhor dormir. Diga “boa noite”.


NÚBIA NONATO

TACHO


Misturo no tacho antigas lembranças,
gargalhadas sem fim.
Adiciono suspiros, arroubos, senãos...
Envolvo, remexo, espalho.
Sobra pouco, confesso, o tempo
leva boa parte.
Sustento a parte que respinga
na memória.
Quando perderes meu rosto em
névoas, acendas o tacho.


Núbia Nonato
NÚBIA NONATO

IMAGENS: CLÓVIS CAMPÊLO

NO CARNAVAL DE BEZERROS
Bezerros/PE, fev/2009.

Fotografia de Clóvis Campêlo





BANDEIRAS
Recife, 1994
Fotografia de Clóvis Campêlo




A BANDEIRA ERA VERMELHA...
O governador Miguel Arraes de Alencar com a bandeira do MST
Recife, 1994
Fotografia de Clóvis Campêlo

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

O CONSULTOR

revistapegn.globo.com

Andava sempre impecavelmente vestido. Era admirado pelas mulheres; invejado pelos homens. Além de charmoso, primava pela extrema cordialidade. Cumprimentava os funcionários, dos porteiros aos membros da diretoria, sempre com um sorriso. Por isso, muitos deles – e delas, principalmente – aguardavam ansiosos suas visitas semanais à empresa, da qual era consultor jurídico. Não havia também quem não admirasse seus conhecimentos. Como pode um homem ter tanto conhecimento? Era o que muitos se perguntavam, entre admirados e impotentes.

Doutor Hélio era um encantador de serpentes. Cobrava caro pelos seus serviços, mas isso não incomodava nenhum um pouco os sócios da metalúrgica – três irmãos, gente de origem humilde, meio bronca, quase analfabeta, mas vencedora. Doutor Hélio lhes dava prestígio. Contar com sua assessoria – e de sua equipe – não era café pequeno, coisa para qualquer empresa de médio porte.

Nas reuniões semanais, nosso consultor, ante qualquer indagação sobre isso ou aquilo, deitava falação, citava leis e mais leis, artigos e mais artigos, incisos, alíneas e tudo o mais que fosse preciso. De chofre. E sem consultar nenhum código, nenhuma colinha. Era um sábio, sem dúvida. Um Rui Barbosa contemporâneo. Muitos lhe perguntavam por que ainda não fora nomeado ministro da Justiça. Limitava-se a sorrir: “O tempo é o senhor da razão.”

Ninguém entendia por que o gerente Geraldo Galdino, o GG, nutria tamanha aversão por doutor Hélio. Um dia, o funcionário resolveu procurar um dos sócios, solicitar uma reunião particular e rasgar o verbo:

-- Há mais de ano, venho fazendo anotações. Toda lei que doutor Hélio cita de cabeça, sem consultar livro algum, anoto disfarçadamente. Em casa, pesquiso para saber se aquilo existe mesmo. Para minha surpresa, na esmagadora maioria dos casos, as leis não existem. Quando existem, tratam de assuntos diferentes dos que foram abordados na reunião. O homem é uma farsa.

O sócio nada disse a GG, além de um “vou pensar no caso”. Dias depois, Galdino foi demitido, sem nenhuma explicação. Quando soube da demissão e, principalmente, das razões que a motivaram, doutor Hélio manteve a fleuma:

-- Nunca quis dizer nada a vocês. Mas Galdino sempre me pareceu um desagregador. Que pena. Inveja mata.


DALINHA

FEITO BEIJA-FLOR


www.marianacaltabiano.com.br


Não quero chorar
Nessa primavera
Tristeza já era
Vou é festejar
Quero voejar
Feito beija-flor
Repousar na flor
Seu néctar sorver
E me embevecer
Aspirando amor.



DALINHA CATUNDA


IMAGENS: FAUSTÃO


Fausto Corrêa Silva, o FAUSTÃO,
nasceu em São Paulo,em  2 de maio de 1950.
É humorista, locutor e apresentador de TV.
Em março de 1984, estreou na TV Gazeta, “Perdidos na Noite”.
Em setembro, o programa passou para a Rede Record.
Em 1986, o "Perdidos na Noite"  transferiu-se para a TV Bandeirantes.
Na mesma emissora,
chegou a apresentar o programa” Safenados e Safadinhos”.
Em 26 de março de 1989, estreou na Rede Globo,
Onde permanece até hoje,
 com o DOMINGÃO DO FAUSTÃO



BAPTISTÃO

ALEX SILVA

CARVAL

BORGES

SANTUNES

RAPIDÍSSIMAS (XXII)


MINUANO

Para o borracho, qualquer brisa é vendaval.

TRAGÉDIA FAMILIAR

-- Mamãe, mamãe, o pai voltou! E “daquele” jeito!

FESTAS

Alegria com data marcada é pênalti.

BOTEM REPARO...

Todo tolo tem uma opinião definitiva sobre tudo.

CONFORME-SE

É sempre possível melhorar – e piorar, o que é mais provável, também.


BRUNO NEGROMONTE

RAINHAS DO RÁDIO: A SORTE FOI UM "ADMIRADOR ANÔNIMO"

Nascida em Santos (município portuário localizado no litoral do estado de São Paulo a cerca de 77 quilômetros da capital), Nice Figueiredo Rocha iniciou a sua carreira artística longe dos auditórios de rádio e estúdios de gravações como todas aquelas que antecederam nesta série em que venho apresentando todas as Rainhas do rádio brasileiro existentes enquanto o concurso esteve vigente, entre os anos da década de 1930 até 1950. Popularmente conhecida como Mary Gonçalves, a pretensa artista, iniciou a sua carreira artística como atriz de cinema estreando em 1944 no elenco do filme "Gente Honesta", segundo filme do diretor mineiro Moacyr Fenelon e que contava no elenco com nomes como Oscarito e Oswaldo Louzada. Sua estreia no rádio só viria a acontecer seis anos depois quando foi contratada para fazer parte do casting da Rádio Nacional. Após a sua inserção no mundo do rádio teve a oportunidade de gravar pela gravadora Sinter o seu primeiro disco, um 78 RPM com as faixas "Penso em você" e "Só eu sei", dois sambas-canção compostos por Fernando Lobo e Paulo Soledade. Nesta gravação a estreante contou com o acompanhamento do conceituado maestro, arranjador e pianista Lyrio Panicali e seu conjunto de boite. No entanto, a futura Rainha do rádio teria na música uma carreira meteórica gravando apenas cerca de uma dúzia de 78 RPM. Sua última gravação data-se de 1956, quando registrou em disco de cera as canções "Deixa disso" (Newton Ramalho e Nanci Wanderley) e o samba-canção "Patati-patatá" (Hianto de Almeida e Francisco Anísio). Depois deste registro abandonou a carreira artística passando a viver na Colômbia. Entre esses escassos registros fonográficos da artista ao longo dos cinco anos em que gravou há canções como  "Aquele beijo", de Claribalte Passos e Lírio Panicali; o baião "Coreana", de Humberto Teixeira e Felícia de Godoy; o samba-canção "Vem depressa", de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti e o bolero "Aperta-me em teus braços", de José Maria de Abreu e Jair Amorim. Suas interpretações também abrangeram compositores como Luiz Bonfá (autor do baião "Meu sonho"), Billy Blanco (que compôs o samba-canção "Rotina"), Dorival Caymmi (compositor do samba-canção "Nem eu" ) entre outros relevantes nomes da música popular brasileira como Johnny Alf, autor de três canções registradas por Mary: "Escuta", "Estamos sós" e "O que é amar". Em 1954, gravou seu último disco na Sinter com o samba-canção "Dentro da noite", de Oscar Bellani e Luiz de França e o beguine "Não vá agora", de Billy Blanco. Segundo o jornalista e pesquisador Sylvio Túlio Cardoso, foi neste selo que a artista fez os seus melhores registros.
A ascendente cantora viria a se tornar Rainha do rádio dois anos após o início de sua carreira radiofônica, em 1952 com um votação de 744.826 votos. Na ocasião venceu a atriz e musicista Adelaide Chiozzo (que foi derrotada por pouco mais de 30 mil votos na última hora de apuração) e a cantora Carmélia Alves e sendo coroada no tradicional baile do rádio no teatro João Caetano em 19 de fevereiro. Vale registrar que a vitória de Mary Gonçalves se deu de modo inusitado. Com exceção de Carmélia Alves (que já possuía diversos o carisma e reconhecimento do público como a "Rainha do baião"), todas as demais candidatas não possuíam aquilo que era fundamental para alcançar o título: popularidade. E entre essas candidatas encontrava-se Mary Gonçalves, que naquele ano estava migrando da Rádio Nacional para a concorrente Rádio Clube, que tinha entre seus primordiais interesses a promoção do nome e da imagem da recém-contratada. Naquele ano a vitória de Adelaide Chiozzo para Rainha do Rádio era dita como certa por dez entre cada dez pessoas questionadas sobre o concurso. No entanto surge a figura de um patrocinador anônimo que alegando estar comprando votos para Carmélia Alves arremata uma grande quantidade de votos e os encaminha para Mary Gonçalves. Essa surpresa foi responsável por diversas situações além da mudança daquilo que já estava dado como certo. Esse novo panorama foi responsável por gerar a oportunidade de Mary duplicar não apenas a quantidade de shows e viagens que fazia, mas também o seu cachê junto aos contratantes assim como também foi responsável por gerar uma desconfortável situação para Carmélia Alves, pois a mesma foi acusada de trabalhar contra a candidatura da colega de emissora. A vitória da candidata santista acabou gerando uma inusitada situação: Carmélia Alves para ir ao Baile do Rádio precisou de escolta policial.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

RAPIDÍSSIMAS (XXI)

romulogondim.com.br

RECORDAÇÕES

-- Salvo engano, Almerindo, também gostei muito de sexo.


 TORCIDA

Torço pela sua total recuperação.  Mas você tinha mesmo que morar no andar de cima e fazer os exercícios de fisioterapia de madrugada?

UMAS E OUTROS

A mão direita lava a esquerda, e vice-versa. Os pés já não são tão solidários assim.

FAROL BAIXO

Dispunha de tempo livre, dinheiro não lhe faltava, podia fazer isso e aquilo, mas optou por gastar todas as horas lamentando o tiro que não levou.

BOM CONSELHO

-- Anda esquecido? Compre uma agenda e contrate uma secretária para abri-la.

SE É PARA PECAR...

Que seja por atos. Por palavras e pensamentos não tem muita graça.


CLÓVIS CAMPÊLO

SEJA MARGINAL, SEJA HERÓI



É difícil imaginar o compositor Caetano Veloso, hoje rico e aburguesado, na televisão, cantando a marchinha “Boas Festas” com um revólver apontado para a sua própria cabeça. Em 1968, o Movimento Tropicalista era assim: radical, agressivo, atentando contra os chamados bons costumes culturais.

O programa Divino Maravilhoso, lançado na TV Tupi em outubro daquele ano, foi tirado do ar um mês depois. A televisão brasileira não estava preparada para ver aquele desbunde. Os serviços de segurança da ditadura militar, no entanto, já vinham de olho nas revoluções dos baianos.

A gota d'água foi o show montado na Boate Sucata, no Rio de Janeiro, com o título de “Seja marginal, seja herói”. Segundo o jornalista Ricardo Alexandre, em matéria publicada no site da revista Super Interessante, espalhou-se que durante o show Gil e Caetano esculhambavam com o Hino Nacional Brasileiro. Segundo a Wikipédia, durante o espetáculo, compôs o cenário uma bandeira criada pelo artista plástico Hélio Oiticica com a inscrição “Seja marginal, seja herói”, com a imagem do traficante carioca Cara-de-Cavalo, que havia sido assassinado de forma violenta pela polícia carioca. Os donos do poder na época, os militares da ditadura, alegaram ainda que Caetano Veloso havia cantado o Hino Nacional de forma desrespeitosa, incluindo na letra versos desabonadores às Forças Armadas. Foi o suficiente para o show ser suspenso e os baianos serem presos e, posteriormente, exilarem-se na Inglaterra.

Foi por esse viés, camaradas, que o Tropicalismo chegou a Pernambuco e confrontou-se com o Movimento Armorial de Ariano Suassuna, que defendia a tradição cultural medieval brasileira e as armas e os brasões assinalados. Sinceramente, não havia como conciliar tudo isso em terras da pernambucália. Muito mais do que um confronto cultural, o conflito foi ideológico e político e se refletiu em atitudes do dia a dia de ambos os lados.

CLÓVIS CAMPÊLO


Assim, enquanto mestre Ariano Suassuna aceitava ocupar cargos públicos em governos biônicos da ditadura militar, encontrávamos Jomard Muniz de Brito, Aristides Guimarães e Celso Marconi, os principais arautos do Movimento Tropicalista paroquiano, nas passeatas de protesto e em outras atividades contestatórias, como o enterro do Padre Henrique, assessor direto do arcebispo Dom Hélder Câmara, brutalmente assassinado pelas forças da repressão. Era esse o contexto, era essa a diferença.

Era do Brasil do “Ame-o ou deixe-o”. As divisões eram nítidas, não havia espaço para indefinições ou dúvidas.

Hoje, passados mais de quarenta anos, parece-nos que tudo isso já foi devidamente digerido, enquadrado e assimilado. Ao menos para nós, o Movimento Armorial não mais nos parece tão retrógado e equivocado como naquela época, do mesmo modo que o Tropicalismo ficou muito mais caracterizado como um movimento destinado ao prazer conceitual de uma determinada elite intelectual brasileira.

Recife, 2014



quarta-feira, 24 de setembro de 2014

CHARGES

EM TEMPOS DE SELFIE


nani2
NANI

NA AUSÊNCIA DE DILMA,
COMO NINGUÉM PODE ASSUMIR...



genildo
GENILDO



NÃO DEIXEM ESCAPAR

duke
DUKE

IMAGENS: SÍLVIO SANTOS


Silvio Santos, nome artístico de Senor Abravanel, nasceu no Rio de Janeiro, 
em 12 de dezembro de 1930. Apresentador de televisão e empresário, 
é proprietário do Grupo Silvio Santos, 
que inclui empresas como a Liderança Capitalização 
(administradora da loteria Tele Sena), 
a Jequiti Cosméticos e o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT).
DA SÉRIE APRESENTADORES DE TV





AMARILDO





MOSAR NESI



NEI LIMA


NATHAN

BAPTISTÃO













RAPIDÍSSMAS (XX)

dicionariotupiguarani.blogspot.com


TODO MUNDO...
Tem sua sina. Sabiá tem a dela: eu.

LEVEMENTE CANSADO
Nada que uma sonoterapia de três meses e meio não resolva.

MUITO OBRIGADO
Mas dispenso seus conselhos. Se não serviram pra você, por que serviriam pra mim?

FIQUEMOS ASSIM
Toda vez que não me levam a sério, dou graças a Deus.

NEM TUDO SÃO FLORES
O trabalho engrandece o homem. A paga, em geral, o avilta.




COISAS DA VIDA

A BELINA




(POR VIOLANTE PIMENTEL) Amaro era um homem bom e calmo.  Dona Neusa, sua mulher, era uma jararaca. Ciumenta e desconfiada demais, tinha mania de querer agredi-lo fisicamente.  Amaro era um sofredor. Sua paixão por automóveis e por futebol, a mulher detestava, mas não conseguia acabar. Já com quase sessenta anos, funcionário público municipal, nunca havia podido comprar um carro  "zero quilômetro", como sonhava. Completamente desiludido com o casamento, não sentia mais qualquer atração física pela mulher. Do tipo conservador, não pensava em separação. O casamento se arrastava há trinta anos. Os dois filhos estavam casados e lhe haviam dado dois netos. A mulher só fazia engordar.

Durante as frequentes discussões com o marido, que ela mesma provocava, tinha a mania de querer agredi-lo fisicamente, jogando nele o que tivesse nas mãos. Amaro estava fadado a permanecer sofrendo com esse casamento, até que a morte resolvesse a situação.

Num certo dia, um amigo seu comprou uma “Belina” do ano e o convidou para ir com ele receber o carro na loja. Os dois saíram mais cedo do trabalho, e foram receber a Belina 0k, que era o seu sonho de consumo. Ele mesmo saiu da loja dirigindo o carro novo do amigo. Iniciaram, então, um passeio pelas principais avenidas da cidade, inclusive pela orla marítima, para amaciar o carro. Depois de algum tempo, os dois amigos resolveram jantar num restaurante, para comemorar a compra da Belina.

Em casa, a mulher estranhou a demora do marido e imaginou logo que ele estivesse com alguma sirigaita por aí. Trincou os dentes de raiva e jurou que ele iria ver do que ela era capaz...

Violante Pimentel
Violante Pimentel é procuradora aposentada
 do Estado do Rio Grande do Norte

Por volta das vinte e uma horas, Amaro chegou feliz da vida, planejando brevemente também comprar uma Belina 0k. Chegou eufórico, como se o carro do amigo fosse seu. Mas a sua alegria durou pouco. Ao entrar em casa, tentou dizer à mulher que tinha ido com o amigo buscar a Belina, mas foi pior. Ao ouvir o nome "Belina", ela, completamente enfurecida, gritou:

-- Ah, seu cachorro, Belina é a mulher com quem você estava até agora?

 Amaro não teve tempo de responder. Sem ele esperar, a mulher, como se estivesse endemoniada, esbofeteou a cara do marido com o salto do sapato, provocando-lhe uma fratura no nariz, e uma grande hemorragia nasal. Amaro acordou no hospital.
 
O casamento terminou aí...




terça-feira, 23 de setembro de 2014

RAPIDÍSSIMAS (XIX)




UM DIA...
Ao louco será dada razão. Mas isso não terá mais a menor importância.

QUE COISA!
O amor se foi, mulher de Deus, mas a saudade ficou.

PT, PT, PT...
PT, eu? Nem no jogo do bicho.

BESTEIRINHA
E eu que, hoje, precisava tanto de um colo ganhei torcicolo.

DEUS ESTÁ VENDO
-- Está?
-- Claro que está.

-- Então, ferrou.